Tem muita gente vendo a vida passar diante das telas
O esgotamento digital é uma realidade e deve se espalhar, e uma gestão de saúde e bem-estar eficiente não pode fechar os olhos para o problema
oi durante a pandemia que a discussão sobre o excesso de tempo diante da tela de celulares, computadores e tablets começou a ganhar fôlego nas empresas. Os primeiros relatos chamaram a atenção para a “fadiga do Zoom”, relacionada ao cansaço extremo provocado por horas seguidas de reuniões no aplicativo que virou o mais popular no início da crise sanitária.
Com a volta do trabalho presencial e a adoção em maior escala dos modelos remoto e híbrido, esperava-se que essa overdose digital fosse domada. Mas não. Um levantamento da Microsoft mostrou que a duração dos encontros online até diminuiu, mas as “calls” rapidinhas, de 15 minutos, proliferaram — atualmente, representam 60% das conversas — e extrapolaram o razoável. Não à toa, os agendamentos sobrepostos subiram 46% no ano passado.
E tem muita gente vendo a vida passar diante das telas. Os brasileiros estão em segundo lugar no ranking de populações que dedicam mais tempo à internet: são 9 horas e 32 minutos por dia, só seis minutos menos do que na líder da lista, a África do Sul. A média global é de sete horas, segundo dados de um relatório recém-divulgado pelas empresas We Are Social e Meltwater.
Embora a hiperconexão seja um problema conhecido, preocupa o aumento do número de pessoas que sofrem com sintomas relacionados ao excesso de exposição a telas, como insônia, irritabilidade, percepção de sobrecarga mental e dificuldade de concentração e de automotivação. Esse cenário fez surgir um novo fenômeno: o burnout digital, esgotamento causado pela overdose de conectividade, inclusive no trabalho, a que dedicamos a maior parte do tempo.
Em uma pesquisa exclusiva para a VOCÊ RH produzida pela Fiter, startup que mede o índice de felicidade nas empresas, 77% dos entrevistados disseram que a maior quantidade de horas em frente à tela acontece no emprego — boa parte em reuniões online, mesmo entre quem trabalha presencialmente.
Para diminuir os danos do excesso, as empresas começaram a formalizar práticas de incentivo à desconexão. O esgotamento digital é uma realidade e deve se espalhar, e uma gestão de saúde e bem-estar eficiente não pode fechar os olhos para o problema.
Este texto faz parte da edição 85 (abril/maio) de VOCÊ RH. Clique aqui para se tornar nosso assinante