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Como criar políticas de saúde e segurança que realmente funcionam

A área de saúde e segurança no trabalho ganhou relevância durante a pandemia do coronavírus e deve continuar importante nos próximos meses. Entenda por quê

Por Nataly Pugliesi
Atualizado em 10 dez 2020, 20h43 - Publicado em 21 ago 2020, 15h00
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  • Esta reportagem foi publicada na edição 68 (junho/julho) de VOCÊ RH.

    Ao se instalar no Brasil, no início de março, a pandemia do coronavírus impactou a forma como empresas de todos os portes e setores fazem a gestão da saúde e da segurança de seus empregados. Com a crise da covid-19, as áreas de recursos humanos, saúde e segurança no trabalho, tecnologia e cibersegurança tiveram de se reunir em comitês e tomar rápidas decisões para garantir um objetivo importante: manter os funcionários em segurança, prevenir o contágio e, assim, garantir a continuidade e a sobrevivência do negócio.

    “Na pandemia, o papel da área técnica é subsidiar os gestores da empresa com informações como o mapeamento dos grupos de risco e fazer ações preventivas, com o objetivo de fazer seus trabalhadores terem o melhor nível de proteção ao lidar com o risco”, afirma João Silvestre da Silva Junior, especialista em saúde no trabalho e professor de medicina do trabalho no Centro Universitário São Camilo.
    Em muitas empresas, a equipe de saúde e segurança integrou comitês de crise, subsidiando os executivos de alto escalão com dados relevantes. “Ficou evidente quanto o planejamento é importante. É preciso lidar com as informações, ter estratégias para situações de emergência e melhorar a comunicação sobre saúde com os funcionários. Palestra uma vez por ano não resolve”, diz o professor.

    Na visão dos profissionais de medicina do trabalho, a pandemia terá um lado positivo para as empresas, que entenderão que precisam integrar melhor a saúde dos empregados às suas políticas e práticas. Embora historicamente, em momentos de crise, a área seja uma das que perdem investimentos, há a aposta para que seja diferente a partir de agora. “Acredito que a saúde do trabalhador deve ser parte dos valores da empresa e, nesse sentido, a área tende a se tornar alvo de investimento. E as empresas olharão com mais atenção e estarão mais bem preparadas para o incerto”, diz João.

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    Medidas preventivas

    Em um primeiro momento, além de se mobilizar em comitês, os profissionais de saúde do trabalho traçaram um plano de prevenção de contágio para que a companhia não fosse foco de contaminação dos trabalhadores. Entre as medidas iniciais estava a conscientização para etiqueta respiratória (não tossir nem espirrar nas mãos, cobrir sempre nariz e boca com o braço, lavar as mãos com frequência e deixar o sabão por mais tempo etc.). Além disso, o time de infraestrutura foi demandado com a necessidade de ter álcool em gel disponível, limpar áreas de uso comum com maior frequência, manter os espaços ventilados e evitar compartilhamento de ferramentas.

    O segundo passo, na oficialização do isolamento social, foi colocar em home office os profissionais que tinham essa possibilidade. Para os que precisam atuar presencialmente, medidas de distanciamento físico e proteção com máscaras e luvas foram instituídas, além da reorganização da jornada para diminuir o fluxo de pessoas trabalhando ao mesmo tempo.

    Hoje, virou rotina em muitas empresas a avaliação de temperatura corporal e, em algumas, a medição de oxigênio no sangue para monitorar a saúde dos empregados logo na chegada ao trabalho e buscar ativamente pessoas que possam ser vetores da doença.

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    A possibilidade de teleatendimento médico também tem sido uma boa ferramenta para acompanhar do estado de saúde dos funcionários. Há também preocupação com a ergonomia de quem está trabalhando remotamente. “Algumas empresas têm conseguido enviar o técnico do trabalho para verificar se o profissional tem uma estação fixa e alinhá-lo em relação às questões ergonômicas”, explica João Silvestre.

    Todas essas são medidas preventivas que fazem a diferença não só na saúde física dos funcionários mas também no engajamento. Quanto mais presente a empresa estiver, maior será a sensação dos empregados de que estão sendo bem cuidados.

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    Como criar políticas de saúde e segurança que realmente funcionam
    Rodrigo Ronzella, diretor de RH da CPFL: medição da temperatura e comunicação por aplicativo e WhatsApp (a foto foi feita antes do isolamento social) (Germando Lüders/Unsplash)

    Apostando nisso, a CPFL Energia, empresa de capital chinês que distribui energia para mais de 687 municípios em quatro estados brasileiros, criou uma pesquisa diária de saúde para quem está trabalhando remotamente — aproximadamente 36% dos 14.000 funcionários. As perguntas chegam aos empregados assim que eles ligam o computador, antes de fazer o login. “A pesquisa vai mapeando o estado de saúde das pessoas. Os dados são monitorados por nossa equipe de saúde e acompanhados no comitê de crises, formado pelos vice-presidentes e pelo presidente”, afirma Rodrigo Ronzella, diretor de RH da CPFL, mostrando que área de saúde da companhia ganhou notoriedade. A empresa teve menos de dez casos de funcionários contaminados, mas Rodrigo garante que não houve contaminação entre colegas.

    Por prestar um serviço essencial, a empresa tem um plano de contingência para continuidade do negócio, colocado em prática em 11 de março. A primeira preocupação foi com os centros de operação da distribuição, em Campinas (SP), Jundiaí (SP) e São Leopoldo (RS), que monitoram e mantém o fornecimento de energia para os consumidores. É preciso que técnicos continuem frequentando fisicamente o local e, para haver mais distanciamento, a empresa restringiu o número de funcionários por vez no local. Foram criadas novas salas e em Campinas, por exemplo, a ocupação diminuiu de 30 pessoas ao mesmo tempo para dez. Os cuidados continuam para os eletricistas que trabalham nas ruas. Além de medição de temperatura dos funcionários na chegada à empresa, os carros da operação possuem kits com álcool em gel, máscaras, viseiras e luvas. E a proximidade com os times de campo foi reforçada: na intranet e no aplicativo de comunicação interna há uma área voltada para tirar dúvidas sobre a covid-19 e existem dois grupos de WhatsApp focados no assunto. “Informações por áudio têm feito bastante sucesso entre nossos eletricistas”, afirma Rodrigo.

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    Dados protegidos

    Além das questões de saúde, a segurança digital dos funcionários deve ser zelada pelas empresas. Com tantos computadores acessando dados corporativos remotamente no home office, ampliaram-se exponencialmente as portas de entrada para hackers — ainda mais no Brasil. Uma análise da empresa de cibersegurança Prevailion apontou o país como um dos que mais sofreram com ataques cibernéticos durante a pandemia.

    “O Brasil ainda não tem uma política de privacidade. Portanto, a falta de maturidade para a questão da segurança da informação fica evidente para os oportunistas, tornando-nos alvos”, afirma Denis Riviello, líder de cibersegurança da Compugraf, empresa de segurança da informação.

    Some-se a isso o fato de que as pessoas estão buscando mais informações online durante a quarentena, e o resultado é o crescimento da vulnerabilidade dos sistemas. “Os phishings, que consistem em tentativas de fraude por meio de e-mails falsos, aumentaram até 50% em três meses, segundo dados da ­MacAfee”, diz Denis. Para proteger digitalmente os empregados, as empresas trabalharam na liberação da rede privada virtual (VPN, na sigla em inglês), ampliaram seus links de acesso e reforçaram os ambientes com proteções de criptografia ou nuvem. Mas, para dar certo, a TI precisa de apoio do RH. “O trabalho de conscientização para a cibersegurança é fundamental”, diz o especialista.

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    Por isso que, na Astellas Farma, multinacional japonesa do setor farmacêutico com 150 funcionários no Brasil, as áreas de recursos humanos e tecnologia trabalham juntas para alinhar todas as questões envolvendo segurança e saúde.

    Desde março, 100% do time está em home office e todo mundo usa o mesmo modelo de computador — do presidente ao jovem aprendiz. As máquinas são criptografadas, os funcionários fazem treinamentos obrigatórios de segurança da informação e a empresa bloqueou alguns aplicativos que demonstraram insegurança. TI e RH conversam para criar ações de engajamento e lançar novidades. “Conseguimos desengavetar muitos projetos e antecipar sua implementação por causa do cenário”, diz Luis Balbino, gerente de TI. Um deles diz respeito a uma atividade-chave da companhia: a visita da área comercial aos consultórios médicos para apresentar novos medicamentos. Os representantes de vendas foram treinados para conduzir visitas virtuais via Skype. “Havia certa resistência antes, mas hoje está funcionando muito bem”, explica Luis.

    A tecnologia também tem sido usada para aumentar o senso de pertencimento e cuidar da saúde física e mental na Astellas Farma. Às segundas e quartas-feiras, o dia começa com alongamento vir­tual, e, às terças e quintas, com meditação guiada. Às sextas-feiras, fica disponível uma sala de ví­deos para quem quiser participar de uma happy hour com os colegas às 13 horas — o fim do expediente é mais cedo, pois a companhia adota a short friday. E todos os dias os empregados podem se conectar em uma para um café online. A média de adesão às iniciativas é de 40 a 70 funcionários. “As pessoas sentiam falta do convívio e dos momentos de pausa”, diz Laís Mastantuono, diretora de RH da farmacêutica. E a tecnologia chegou ao plano de saúde, que agora conta com telemedicina para todos. “Falar sobre saúde é um caminho sem volta, que não sairá de nossa agenda”, afirma a executiva.

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