Conheça Andreia Dutra, a primeira mulher a presidir a Sodexo no Brasil
A executiva veio direto do RH e usa muito de sua experiência na diretoria de gestão de pessoas para liderar 44.000 funcionários
Andreia Dutra, de 44 anos, é a primeira mulher a ocupar a posição de presidente no Brasil. Ela assumiu esse desafio em 2017 e antes disso passou por uma cadeira da qual não saem muitos CEOs: a do RH. Ali, a executiva pôde desenvolver ainda mais sua inteligência emocional e seu autoconhecimento. E ela não é a única líder mulher por lá. Ao contrário. Na filial brasileira da multinacional francesa, elas ocupam 85% dos cargos de liderança. A diversidade é um pilar importante — por isso, mais de 1.800 dos 44.000 funcionários são do grupo de pessoas com deficiência (PCDs), mais de 50 são transexuais e 170 são refugiados.
Sua formação é em nutrição e você passou por diversas áreas antes de chegar ao RH. Como foi essa transição?
Comecei como trainee em uma empresa regional de refeições coletivas em Santa Catarina que foi adquirida por uma companhia nacional que, depois, foi comprada pela Sodexo em 2011. Tive a oportunidade de passar por operações e pela área comercial. Em 2014, me convidaram para assumir o RH. Quando fiquei sabendo, pensei: “O que será que eu fiz de errado para sair do comercial? Eu não perdi nenhum cliente” [risos]. Mas, na verdade, a equipe da França queria trazer a área de recursos humanos para mais perto do negócio, e eles achavam que eu tinha perfil para assumir esse papel. Foi um grande desafio, mas isso me fez sentir uma forte motivação e eu aceitei. Em 2017, veio a chance de assumir como diretora presidente, e sou a primeira mulher a estar nesta posição no Brasil. Por mais que a Sodexo tenha uma responsabilidade corporativa muito forte de empoderamento feminino, eu me sinto desbravando um novo caminho.
Ter trabalhado no RH influencia em seu papel como presidente?
Poder conhecer mais de perto as ferramentas de gestão de pessoas e contribuir para o crescimento profissional das equipes é realizador. Eu me baseio muito naquela frase do consultor de negócios Ram Charan, que fala que todo mundo tem algum talento e que é preciso apenas descobri-lo para aplicar na atividade certa e amplificar. Ter a oportunidade de fazer isso, desenvolver pessoas e estar próxima dos outros, foi importante para mim. A posição de liderança requer muita inteligência emocional, paciência, resiliência, colaboração e, sobretudo, autoconhecimento. Esse é um dos fatores fundamentais de um líder, e estar na área de recursos humanos me ajudou a me desenvolver nesse sentido.
Você é uma executiva que apoia muito a causa da diversidade. Por que ela é importante?
A diversidade é algo que já faz parte da cultura da Sodexo. Nós atendemos mais de 1 milhão de consumidores em todo o Brasil e em diferentes setores. Ou seja, temos clientes diversos e, para entender essa diversidade, devemos refleti-la dentro de nossa estrutura. Pesquisas já comprovam que ambientes diversos são mais criativos e inovadores. E vamos precisar dessas características para depois da crise do coronavírus. Mesmo com a quarentena, nós mantivemos as atividades dos grupos de apoio, estamos dando todo o suporte necessário para os funcionários e continuamos com o processo seletivo de pessoas com deficiência. Além disso, a área de diversidade está ajudando na preparação de nossos líderes para acolher as equipes durante a pandemia, entender como as pessoas estão se sentindo, quais são as principais necessidades e afastar os que são do grupo de risco. Não adianta ser uma empresa diversa e não cuidar das pessoas.
A Sodexo também tem um programa de refugiados. Quais são os desafios e benefícios de receber esses profissionais?
É maravilhoso, porque você sente que está fazendo a diferença. Nossos colaboradores recebem muito bem os novos funcionários, pois entendem a dificuldade que essas pessoas estão passando, de ter de deixar a terra natal e se restabelecer em outro lugar. São histórias de vida bem difíceis. E os refugiados contribuem bastante, não só com as atividades do negócio — muitos falam outro idioma e dão aulas para os brasileiros. Além disso, nosso carro-chefe é o serviço de alimentação, e eles trazem receitas novas, pratos típicos da região de onde vieram, e isso se torna um benefício inclusive para nosso consumidor final, que tem a oportunidade de experimentar comidas típicas da Venezuela, Cuba, Haiti e outros lugares. O desafio maior no início é a língua, mas nós temos parceiros que oferecem cursos de português gratuitos.
Como a empresa está trabalhando para engajar as equipes durante a pandemia?
Colocamos 100% dos escritórios em home office e estamos atentos a todas as orientações dos governos e do Ministério da Saúde, e às boas práticas vindas do global. Além disso, nossos esforços estão na questão de manter a proximidade de toda a organização. Procuramos entender as necessidades de cada um para encontrar as melhores soluções. Nós fizemos algumas ações, que podem parecer simples, mas que estão trazendo resultados efetivos, como incentivar a liderança a estar mais próxima e a conversar com o time. Também reforçamos o programa de apoio psicológico, que pode ser acionado tanto pelos funcionários quanto por seus familiares.
Estão surgindo ações de solidariedade?
Atendemos o setor de saúde e temos pessoas trabalhando dentro dos hospitais. Um de nossos funcionários percebeu que os pacientes ficavam tristes por estarem isolados e começou a escrever mensagens de apoio na tampa das embalagens de alimentos que iam para os quartos. Isso teve uma repercussão maravilhosa e foi uma ação que partiu dele, a Sodexo não o orientou a fazer isso. É importante reconhecermos essa pessoa.
Atualmente, qual é o maior desafio da empresa quando o assunto é gestão de pessoas?
Manter a comunicação próxima e alinhada. Em uma crise, cada um reage de uma forma diferente e precisamos estar próximos para escutar as dúvidas e as angústias, e então entender como ajudar, mesmo não tendo todas as respostas disponíveis. Tranquilidade, segurança emocional e boa comunicação são os maiores aliados para gerir as pessoas.