Esta reportagem foi publicada na edição 68 de VOCÊ RH.
Formado em sistema de informação, com pós em engenharia de software, Fabiano Carrijo, de 33 anos, sempre voltou sua carreira para a área de tecnologia. Por oito anos, ele trabalhou como arquiteto de software em uma multinacional, com salário bastante confortável.
“Eu sonhava ter minha própria empresa, mas deixar a segurança do emprego com carteira assinada era um desafio”, diz. Por isso, antes de tomar qualquer decisão, Fabiano mergulhou no tema empreendedorismo e participou de inúmeros eventos sobre startups, em busca de conteúdo e networking. Foi nesses encontros que ele conheceu os quatro sócios da Psicologia Viva: Bráulio Bonotto, Luciene Bandeira, Edinei Santos e Paulo Justino.
Em comum, eles tinham a vontade de fundar um negócio inovador e a certeza de que deveria estar relacionado à telessaúde. Até que surgiu a ideia, vinda de Luciene e Bráulio, formados respectivamente em psicologia e saúde pública, de criar uma startup que oferecesse consultas psicológicas online.
O problema
Em 2015, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) iniciou uma fase de testes, permitindo que psicoterapeutas fizessem até 20 sessões por mês pela internet. A liberação foi o pontapé inicial para que os sócios tivessem o insight do negócio. À época, pesquisando sobre o mercado, eles descobriram um dado que demonstrava uma carência no mercado. Segundo o CFP, 50% das cidades do Brasil não tinham psicólogos. “Foi aí que tivemos a certeza de que existia mercado para o que estávamos estruturando”, diz Fabiano, hoje CEO da empresa.
Naquele mesmo ano, após meses de testes, eles fundaram a Psicologia Viva. Os primeiros atendimentos foram gratuitos aos pacientes e custeados pela startup — que oferecia a consulta grátis em anúncios no Google e pagava diretamente aos psicólogos. “Os interessados respondiam a algumas perguntas e, depois, nós os contatávamos por e-mail explicando os passos do período de experiência. Fizemos testes com 50 psicólogos e 300 pacientes para saber se funcionava ou não.” Com base no feedback de usuários e terapeutas, eles validaram o negócio e inscreveram a startup no programa de aceleração do governo de Minas Gerais e receberam o primeiro investimento — de 80.000 reais.
A inovação
Em 2017, a companhia deu enfim uma guinada. Naquele ano, além de o CFP liberar o serviço de teleterapia, retirando o limite de consultas virtuais, a Psicologia Viva recebeu capital semente de instituições variadas, como Banco BMG e Hospital Albert Einstein. Somados, os aportes trouxeram fôlego e permitiram fazer uma virada no modelo de negócio, transformando a teleterapia em benefício corporativo. “Chegamos à conclusão de que o acesso aos funcionários por meio das empresas era a maneira mais simples de conquistar a conexão entre psicólogo e paciente”, diz Fabiano.
De lá para cá, a startup fechou parceria com mais de 60 empresas, como Grupo Algar, Azul Linhas Aéreas, Avon, Roche e Siemens. Em 2018, outro passo: os sócios inscreveram a Psicologia Viva no programa de aceleração chileno StartUp, o que permitiu a instalação de um escritório no país, a contratação de uma equipe local e a expansão para outras nações da América Latina, como Argentina, Peru e Uruguai. “Como o espanhol é a língua da maioria dos países da América Latina, um psicólogo uruguaio pode atender um paciente argentino, por exemplo.”
O próximo passo
Em março, a Psicologia Viva recebeu seu maior aporte até o momento, de 6 milhões de reais, do fundo Neuron Ventures, lançado pela Eurofarma para apoiar projetos de tecnologia com potencial de transformar o setor de saúde. O dinheiro será usado para aumentar a equipe e continuar a expansão pelo Brasil e pelo restante da América Latina. “A quarentena alavancou os serviços da plataforma. As 18.000 consultas de março se tornaram 24.000 em abril. Estamos nos preparando para crescer mais”, diz o CEO.
No começo do ano, a startup operava com 30 funcionários. Para atender à demanda após o início da pandemia, aumentou para 47, e a expectativa é chegar a 65 até o final de 2020. Com a quarentena, os atendimentos mensais quadruplicaram em comparação à média de 2019, saltando de 5.000 para cerca de 20.000 sessões. E a expectativa é que os números sigam crescendo cerca de 20% ao mês depois deste período. “Estamos confiantes em relação à recepção das empresas aos serviços de teleterapia depois do coronavírus. Prevemos que, até 2022, a população vai tratar da saúde mental como trata da física.”