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Qual é a responsabilidade das empresas no mês da visibilidade lésbica?

A discussão sobre mulheres lésbicas ainda é tímida nos meios empresariais, por isso é tão importante debater o tema com profundidade

Por Liliane Rocha*
Atualizado em 10 dez 2020, 20h44 - Publicado em 19 ago 2020, 15h15
 (Jiroe/Unsplash)
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Quando falamos de mês da visibilidade lésbica e da importância dos dias 19 e 29 de agosto, precisamos antes refletir por que alguns temas seguem sendo tão emblemáticos a ponto de haver a necessidade de criação de dias específicos para garantir um debate focado.

Bem, como especialistas vêm refletindo, temos universalizado as discussões sobre direitos raciais pelo homem negro. E temos universalizado as discussões sobre direitos das mulheres pelas mulheres brancas. Não à toa, temos falado sobre o quanto o tema mulheres negras é importante e precisa entrar na pauta. Lembremos que na liderança das 500 maiores empresas brasileiras, 13% são mulheres, 4,7% são negros e somente 0,4% são mulheres negras. O mundo empresarial reflete o que observamos em toda e qualquer área da sociedade e do conhecimento que é um apagamento da perspectiva e potência das mulheres negras.

O mesmo acontece quando falamos de direitos e visibilidade LGBT+. E por isso, aproveito o mês da visibilidade lésbica para falar sobre mulheres negras e lésbicas na nossa sociedade. Quando falamos de mulheres lésbicas, o resultado é o mesmo, notamos o  apagamento dessa narrativa nos debates empresariais e sociais. Claro que não em todos os contextos. No mundo das artes por exemplo, em que por um caminho ou por outro galgou-se um pouco mais de liberdade de expressão, é possível vermos a potência da voz de mulheres brancas e negras lésbicas, falando abertamente e livremente sobre as suas vidas. Por vezes sendo julgadas, atacadas e difamadas em pleno Brasil de 2020, o que é estarrecedor, mas ainda assim trazendo a sua voz e força nessa conversa.

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Cadê a representação?

No entanto, como mulher, negra, lésbica e executiva em grandes empresas, fico me perguntando quantas vezes me senti realmente representada em capas de revistas. Você lembra de alguma capa de revista com mulheres lésbicas, de todas as etnias e executivas trazendo a sua voz? Consigo lembrar de capas com executivos gays e com executivos(as) trans, o que é maravilhoso e me deixou muito feliz, mas não me lembro de uma capa sequer com executivas lésbicas.

A dupla ou tripla pressão social, de ser mulher, ser lésbica, ser negra quase sempre se torna um caminho de apagamento sem volta.  Essa tripla interseccionalidade, por vezes, representa um total apagamento nas discussões de debates, falta de acesso a espaços de tomada de decisão e até mesmo risco de vida, lembremos o caso da socióloga e política Marielle Franco, um crime até hoje sem muitas respostas.

A pressão de um mundo construído e estruturado por uma perspectiva na qual o masculino é um dos grandes balizadores das oportunidades que cada um de nós terá na sociedade deixa o assunto mulheres à margem do debate. Digo, falamos de mulheres de uma forma homogeneizada, no entanto, não entramos em uma discussão mais qualificada sobre mulheres negras, lésbicas, trans, periféricas. Entrar nesta seara por vezes já parece um tabu. Um salto que as empresas e a sociedade eventualmente parecem não estar preparadas.

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Debate aprofundado

Por isso, neste mês de agosto, falamos de visibilidade lésbica, e eu como mulher, negra, lésbica, faço questão de chamar a atenção para que esta questão seja debatida com atenção e profundidade. Todos os representantes da diversidade sexual enfrentam um milhão de desafios, e recorrentemente até, como já disse, o risco no direito à vida. Exatamente por isso mesmo que temos que lembrar que quando marcadores identitários se sobrepõem, se somam, esse debate se torna mais profundo, demonstrando que a tomada de consciência dos nossos lugares de privilégio na sociedade, dentro dos nossos diversos marcadores identitários, é cada vez mais e mais urgente. Bem como nos solidarizar com aqueles que sofrem uma maior pressão, que estão na linha de frente ou em contextos mais vulneráveis.

Quantas líderes, executivas lésbicas você conhece? Quantas executivas negras e lésbicas? Quantas representantes do poder público? Quantas mulheres em postos de tomada de decisão, em qualquer lugar do país, brancas ou negras que são lésbicas você consegue mencionar?

Por isso, falar sobre visibilidade lésbica é fundamental. Mulheres, brancas e negras têm o direito de ser quem são. De se relacionar com quem quiserem, de construir a jornada profissional e pessoal que tiverem escolhido para si.

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*Liliane Rocha é fundadora da consultoria de diversidade e sustentabilidade Gestão Kairós e autora do livro Como ser um líder inclusivo

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