Novo modo de trabalho na Unilever: semana de 3 dias e metas compartilhadas
Carolina Mazziero e Liana Fecarotta, diretoras de RH da Unilever Brasil, falam sobre a experiência e os desafios de dividir a mesma função
São Paulo – O tempo se transformou no ativo mais valioso e escasso da atualidade. A agenda apertada e repleta de compromissos profissionais disputa atenção com a família, amigos e momentos de lazer, numa incessante e exaustiva busca por mais equilíbrio.
A missão de conciliar e desempenhar diferentes papéis com qualidade – seja como profissional, mãe, pai ou empreendedor – é um desafio e tanto. Nesse contexto, as jornadas de trabalho flexíveis são hoje um diferencial competitivo e uma ferramenta de atração de talentos e retenção dos melhores profissionais do mercado.
A experiência pioneira do job sharing, ou cargo compartilhado, é exemplo disso. Quando anunciamos o início do projeto da Unilever Brasil, no qual compartilhamos o mesmo cargo por nove meses e pudemos nos revezar para nos dedicar aos compromissos profissionais apenas por três dias na semana, ficou evidente o quanto o mercado está sedento por novos modelos de trabalho mais flexíveis e que atendam tanto às expectativas de carreira quanto da vida pessoal.
Compartilhamento dá mais equilíbrio
Nós nos tornamos referência para outras empresas, fomos procuradas para palestras e seminários, concedemos diversas entrevistas para jornais e revistas e, assim, pudemos contribuir para transformar as relações empresa-funcionário, com foco no aumento da produtividade, respeito ao momento de vida de cada um e mais satisfação no ambiente de trabalho.
A vontade de ter mais tempo para os estudos e aperfeiçoamento profissional, para refletir e investir no autoconhecimento, repensar, redirecionar a carreira e fazer networking, além da presença mais constante junto à família e amigos, foi o que nos motivou a enveredar por essa jornada desafiadora e que rendeu muitos aprendizados e bons resultados, sendo o mais gratificante deles ter o job sharing incluído como política de gestão de pessoas na Unilever Brasil, uma companhia já precursora de práticas de trabalho flexíveis como o home office, por exemplo.
Toda complexidade deixa de existir quando há vontade genuína de fazer acontecer e, estar em uma organização como a Unilever, aberta a experimentar e repensar modelos e soluções diferentes do convencional, foi fundamental para colocar o projeto em prática. Nove em cada dez pessoas desejam ter mais flexibilidade no trabalho. Isso é uma realidade. As empresas precisam estar cada vez mais atentas para ouvir os sinais do mercado e inovar, já pensando no Futuro do Trabalho e nas gerações que estão por vir.
Lições preciosas
O que aprendemos com o job sharing? Muito. No âmbito profissional, vivenciamos na pele todos os benefícios e dificuldades de implementar esse modelo. Conseguimos ser mais efetivas e focadas nos dias de trabalho, tivemos receptividade e colaboração dos times para fazer a iniciativa dar certo, adotamos metodologias ágeis e passamos a considerar entregas de curto prazo. E o mais importante: entendemos que quando temos clareza estratégica, combinada a um time talentoso e com autonomia necessária, não precisamos mesmo estar conectadas o tempo todo.
Desconectar mentalmente do trabalho nos dias off sem dúvida exigiu esforço e foi um verdadeiro exercício de disciplina, cumplicidade e, acima de tudo, de confiança, pois significou aceitar as decisões da dupla e respeitar, independentemente de ser o caminho que seguiríamos individualmente.
Resumiríamos os grandes fatores de sucesso dessa jornada em:
- Diálogo com o líder imediato e confiança, principalmente com a dupla. Perfis que se complementam, e se respeitam, são fundamentais para a experiência dar certo.
- O combinado não sai caro! A definição de escopo e o alinhamento das entregas da função são essenciais. Métodos ágeis de trabalho também nos ajudaram.
- Dividimos nossa agenda em projetos com responsabilidades claras para facilitar o ponto de contato para o time e organização.
- Ter um time maduro e estruturado para tocar a agenda com autonomia e disciplina para participar de reuniões semanais para ajuste de rota.
O job sharing foi um aprendizado do início ao fim. A desaceleração nos permitiu parar para aprender, possibilitou a reconexão com nossos propósitos, reafirmou elos e serviu também para rever paradigmas, como por exemplo, de que há uma beleza extraordinária e complementar entre os muitos papeis desempenhados na vida pessoal e na vida profissional, e que esses dois mundos podem coexistir, de modo equilibrado, para trazer mais satisfação.
Que possamos servir de inspiração para outras muitas experiências de cargos compartilhados. Somente a coragem para fazer diferente tem o poder de transformar o mundo do trabalho em um ambiente mais produtivo e igualitário para todos.
Quer saber sobre outras tendências do futuro do trabalho?
A reportagem de capa da VOCÊ RH deste bimestre desvenda como será o trabalho na próxima década.