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Ana Carolina Souza

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Neurocientista e sócia da Nêmesis, empresa de educação corporativa na área de neurociência organizacional
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Contra os vieses inconscientes no trabalho

Entenda a relação entre perspectiva, percepção e empatia de cada um para a criação de um ambiente diverso e inclusivo no ambiente corporativo.

Por Ana Carolina Souza, colunista de VOCÊ RH
29 ago 2023, 09h14
Três funcionários sorriem enquanto conversam com uma quarta pessoa, que está do outro lado da mesa
 (Pexels/Reprodução)
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É fato: em termos percentuais, minorias ocupam posições restritas nas organizações e nem sempre se sentem representadas por seus gestores. Lutar contra vieses inconscientes pode ser um grande desafio. Para isso, precisamos investir em dois processos específicos: perspectiva e empatia.

O que sabemos sobre perspectiva? Nos conectamos com o mundo externo por meio dos cinco sentidos, mas é a perspectiva que irá definir como compreendemos esse mundo. Antes de identificar que o objeto à sua frente é uma cadeira, o cérebro processa, pela visão, cada milímetro de informação que chega através das retinas, analisando cor, textura, forma etc. Aos poucos, conforme o processamento visual acontece, o cérebro vai conectando essas informações, como se fossem as peças de um grande quebra-cabeça, e ao final somos capazes de identificar e dar sentido àquilo que vemos.

Esse processo funciona da mesma forma para todos os sentidos. Tudo que vemos, ouvimos e sentimos é reconstituído pelo cérebro, e é justamente aí que entra em cena a percepção. O tom de verde que eu vejo na cadeira pode ser diferente do tom de verde que outras pessoas enxergam. Ainda assim concordamos que é verde. Mas alguém poderia descrever a cor como azul. Quem está certo? Todos! Pois cada um descreve exatamente aquilo que identifica pela sua própria percepção.

No entanto, o efeito não se limita às cores dos objetos. Tudo que experienciamos passa pela percepção, que por sua vez é influenciada diretamente pelas experiências prévias que tivemos e o que aprendemos ao longo da vida. Aquilo que faz ou não sentido, ou é certo e errado para cada um de nós, varia em função da nossa percepção sobre aquilo com que estamos lidando no momento.

Se a percepção influencia nossa visão de mundo e as experiências impactam a nossa percepção, uma forma eficiente de expandir nossas perspectivas é justamente ampliando e diversificando nossas próprias experiências e referências. E como isso pode se dar no universo corporativo?

 

Viés inconsciente

Imagine que, durante muitos anos, uma determinada pessoa só tenha convivido com líderes homens. Nesse caso, o mais provável é que haja uma associação direta no cérebro dessa pessoa relacionando os conceitos “liderança” e “homem”, criando o entendimento subjetivo de que “líderes são homens”. Ao ver uma mulher ocupar um cargo de liderança, essa pessoa pode demonstrar uma resposta automática de estranheza e até mesmo um certo ceticismo com relação à competência da nova liderança. Afinal, em sua trajetória de vida, não ocorreram experiências prévias relacionando os conceitos “mulher” e “liderança”. Mesmo que essa pessoa não saiba, seu entendimento de quais características uma liderança deve ter para ser bem-sucedida é influenciado por um atalho associativo no cérebro, o chamado “viés de gênero”.

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O exemplo acima serve para toda e qualquer questão associada à diversidade, no que diz respeito ao que limita ou não diferentes grupos ocuparem diferentes espaços dentro da organização. Ao entendermos como isso ocorre no cérebro, podemos pensar que o contrário também seria verdadeiro. Por exemplo, profissionais que convivem com lideranças diversas criam padrões associativos mais amplos em seus cérebros, conectando diferentes perfis com o conceito de liderança e, por isso, não questionam a competência de seus líderes em função de características como gênero, cor, raça, orientação sexual, deficiências etc. Por meio da experiência, esses profissionais são capazes de apresentar uma percepção mais abrangente a respeito de quem pode ou não exercer essa função com êxito.

Porém, se o ambiente de trabalho ainda não apresenta a diversidade de que precisamos, como potencializar essas experiências? Aqui entra a empatia, que irá nos permitir compreender o outro por suas emoções e pontos de vista. Ao conviver com pessoas diferentes, ouvir suas histórias e conhecer sua forma de pensar, nutrimos o nosso cérebro com informações diversas, ampliando nossa rede associativa. Isso nos ajuda a suavizar os vieses inconscientes, pois agora o entendimento da realidade não é criado apenas pela minha própria visão de mundo, mas sim por um conjunto de perspectivas que inclui o que observo ser relatado ou vivido por outras pessoas diferentes de mim.

Pensando no papel das empresas, para que esse caminho dê certo, é necessário criar um ambiente organizacional que seja não apenas diverso, mas também inclusivo, favorecendo a troca de experiências e o convívio entre os colaboradores.

 

Como estimular esse processo dentro das empresas?

  1. Reduzir estresse e conflitos, que dificultam a empatia.
  2. Incentivar interações sociais, convívio e a troca de experiências entre os colaboradores.
  3. Criar oportunidades para que as pessoas se conheçam melhor, valorizando as diferenças.
  4. Orientar as pessoas sobre a importância de exercitar a escuta ativa, sem julgamentos.
  5. Investir em ações que gerem identificação e pertencimento.
  6. Oferecer curadoria de conteúdos sobre diversidade.
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Investir em conteúdos de qualidade que abordam a perspectiva de grupos minorizados, valorizar o lugar de fala e investir em ações afirmativas são todas ações fundamentais para a criação de um ambiente realmente diverso e inclusivo. A transformação é lenta, mas é possível. E com o tempo, podemos ampliar nossa percepção, desenvolver nossa empatia e, com isso, transformar o status quo.

Os vieses inconscientes nada mais são do que atalhos criados no nosso subconsciente para otimizar o processamento cerebral. Infelizmente, nem sempre esses atalhos trarão resultados justos e favoráveis para a sociedade e as organizações. Por isso cabe a nós utilizar o conhecimento disponível para otimizar esses processos, adaptando-nos ao espírito do tempo e atualizando nossos conceitos para que não sejam mais inadequados, excludentes e limitantes.

E na sua organização, o que tem sido feito para transformar os seus vieses inconscientes?

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