Pode parecer estranho dizer isso, mas tenho a impressão de que a empatia foi uma das habilidades emocionais mais desenvolvidas nas pessoas desde que fomos todos trancados em nossos lares, há quase um ano, após o surgimento da covid-19. Funcionários, clientes, chefes, fornecedores… Muitos de nós passamos a trabalhar forçadamente de casa, no improviso e no susto.
Inicialmente, com uma rede wi-fi pouco suficiente, com panos de fundo embaraçosamente pessoais: aquele quadro de gosto duvidoso que herdamos do nosso ex; a parede descascada que já deveria ter sido consertada; ou a clássica quina do armário que fica aparecendo justamente no meio da tela do computador… Exatamente de onde o sinal de internet funciona melhor.
É a partir de lugares como este, nos quais somos imperfeitos, improvisados e vulneráveis, que temos a chance de ver brotar a empatia. É onde conseguimos enxergar melhor o outro como humano, nos conectando com a realidade altamente imperfeita de todos nós.
Empatia é diferente de simpatia
A empatia é um fenômeno um pouco mais elaborado do que a simpatia. Acontece quando você não teve um certo tipo de experiência, mas pode combinar pedaços de sua memória imaginativa para explorar como seria tê-la. Podemos usar essa nossa imaginação para construir pontes para o território do outro a partir de percepções que temos dentro de nós, ainda que não tenhamos vivenciado a totalidade da tal experiência.
Você sabe, por exemplo, o que é ficar frustrado. Você entende o medo de sair de casa e pegar um vírus. Você sabe como é sentir que algo é irritantemente incompreensível… A partir desses fragmentos relevantes, você pode juntar com imaginação uma sensação de algo que você nunca experimentou diretamente.
Empatia é, então, a capacidade de entrar nos desejos ocultos e nas necessidades e dores não expressas de pessoas que não são de sua tribo. E isso nos permite levar a sério como seria ser o outro. E esta é uma das habilidades mais importantes para os líderes da atualidade e – por que não – para os profissionais em geral.
A importância da empatia no trabalho
Dentro de uma empresa, quando os funcionários se sentem compreendidos e cuidados, tendem a estar dispostos a ir mais longe, a produtividade aumenta e as companhias têm mais facilidade para manter ou elevar seus resultados. Em suma, ter um ambiente de trabalho empático é bom para o bem-estar das pessoas e a sustentabilidade do negócio. Acredito, inclusive, que somente com empatia consegue-se implementar a diversidade nas empresas de maneira efetiva.
É ela que nos ajuda a reduzir o volume do julgamento que fazemos sobre o outro a partir de suposições, preconceitos ou crenças. Ela evita conflitos, pois nos afasta das chances de humilhar e ridicularizar alguém, enquanto nos impulsiona a construir relacionamentos mais maduros, duradouros e funcionais, mesmo em momentos difíceis. Isso é especialmente importante no trabalho porque nem sempre escolhemos com quem vamos dividir o expediente ou um projeto, e nunca poderemos ter acesso ao “eu” verdadeiro do outro se não baixarmos a guarda em algum momento.
Acredito profundamente que a empatia é uma das principais habilidades que podemos levar para o local de trabalho. Afinal, toda boa colaboração ou todo desenvolvimento de produto, serviço ou projeto requer abertura para avaliar diferentes opiniões e considerar pontos de vista distintos, além de uma boa dose de diferentes habilidades, aptidões e ideias que devem ser discutidas com tato e sensibilidade.
Poder de cura
No livro Carpe Diem, o filósofo e cofundador da The School of Life Roman Krznaric afirma que a empatia é um “antídoto poderoso para esses tempos de individualismo e uma ferramenta eficaz para uma vida melhor”. Na visão dele, essa habilidade, que pode ser aprendida e aprimorada, tem “o poder de curar relacionamentos desfeitos, derrubar preconceitos, nos fazer pensar em nossas ambições e até mesmo mudar o mundo.”
Caso você esteja com dúvidas sobre como ter mais empatia pelo outro, sugiro começar com uma avaliação pessoal. Por exemplo, de que maneira pode ser difícil trabalhar ou conviver com você? Por que e como você gostaria que as pessoas te compreendessem melhor? Nesse exercício, você terá a oportunidade de entender se está sendo bem acolhido e refletir qual tem sido o seu nível de acolhimento com relação ao outro.