á pelos meus 20 anos, tinha dificuldade para me acostumar com visões de partir o coração: minha irmã chorando, sentada no sofá, sem que ninguém desconfiasse do motivo. A gente perguntava, e a resposta era “não sei”. Ela parou de interagir com os amigos, mudou de faculdade para uma que ficava pertinho de casa (de onde poderia ser resgatada rapidamente na eventualidade de uma crise). Não sorria mais. Não tinha condições de durar num emprego. Foi apagando diante dos nossos olhos. Estava com depressão.
À época, sem internet e com raras informações sobre saúde mental, levou um tempo até que ela procurasse tratamento. Ir a um psiquiatra, até hoje, é coisa que a gente não fica comentando com qualquer um. “Ah, esse não bate bem da cabeça…”
Talvez. Mas não será o único caso. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil é o quinto país com mais deprimidos no planeta. E o campeão mundial em ansiosos. “De perto, ninguém é normal”, cantou Caetano Veloso.
Ter depressão em casa, rodeado das pessoas que te amam, já provoca um sentimento de indiferença em relação à vida. No escritório, então, com todas as pressões do trabalho, tende a ser pior.
As pessoas não entendem por que aquele profissional extrovertido de repente passou a evitar contato com as pessoas; por que um gestor começou a faltar sem motivo; por que um executivo de alta performance teve uma queda de produtividade. Mas é imprescindível tentar entender. É o que as empresas com gestões mais humanas estão fazendo.
Afinal, a resposta é que essa pessoa está doente e, dependendo do nível de gravidade da depressão, dedicar-se a qualquer tarefa se torna impossível. Estamos falando de alguém sem motivação para sair da cama de manhã.
Segundo Andrew Solomon, autor de O Demônio do Meio-Dia, livro que é um tratado sobre a doença, a depressão “é a solidão dentro de nós que se torna manifesta, e destrói não apenas a conexão com os outros, mas também a capacidade de estar apaziguadamente somente consigo mesmo”.
Quando as organizações têm um olhar atento para a saúde mental dos seus trabalhadores, ainda que não possam curar a depressão de ninguém, criam um ambiente de prevenção e acolhimento. Um lugar onde os gatilhos para uma crise são mais raros. Assim, engajar-se num projeto e estar com os colegas pode até fazer parte da solução.
Este é meu primeiro contato com você, leitor. Assumi o cargo que foi brilhantemente ocupado pela jornalista Marcia Kedouk nos últimos anos. Espero estar à altura da qualidade editoral que você merece.