A IA está revolucionando diversos setores da economia. Também vem transformando diferentes áreas das empresas, e o RH não é exceção. Vale destacar, inclusive, que um estudo da Gartner prevê que a IA será responsável por 70% de todas as interações com candidatos até 2025. Já uma pesquisa da PwC estima que, até 2030, a IA pode gerar uma economia de até US$ 8 trilhões às empresas com relação aos custos de RH.
Em um artigo da PHD Nada Sanders, publicado por Harvard, encontrei mais dados que nos estimulam a ampliar a reflexão. No texto, ela afirma que a nova vantagem competitiva é “a mente humana”, o “pensamento crítico humano” e a “inteligência humana em uma decisão”.
Mas ela alerta para o fato de que os dados apresentados pela IA podem, pelo menos por enquanto, não serem tão precisos ou verdadeiros. Por isso, ainda é prudente que haja uma avaliação humana sobre os resultados.
No artigo, ela defende o uso da IA como um copiloto, não como alguém que está no total comando, e lembra uma fala do executivo John Sicard. Ele diz que o domínio do conhecimento é essencial para enfrentar tempos turbulentos e que, quando um avião enfrenta uma situação incomum, o piloto automático é desligado e os pilotos humanos assumem o controle.
IA generativa
Uma série de atividades realizadas nos setores de RH das empresas estão sendo atribuídas à IA. Mas, na verdade, trata-se de automações que foram facilitadas pela IA usual, que realiza tarefas específicas dentro de parâmetros definidos, utilizando algoritmos e regras predefinidas.
A automação já está em uso há algum tempo nas empresas. O que a IA fez foi desburocratizar e facilitar o acesso das pessoas à essa automação de tarefas repetitivas, de baixa complexidade e/ou que requerem a análise de grandes quantidades de dados – como a triagem de currículos, o agendamento de entrevistas e as traduções de arquivos –, além de facilitar o uso de chatbot de perguntas e respostas.
Já a IA generativa, como o ChatGPT, tem chamado a atenção por criar conteúdos novos empregando modelos de aprendizado de máquinas como redes neurais. A IA generativa, em particular, tem o potencial de transformar radicalmente os processos seletivos e o departamento de RH como um todo. Ela pode ser usada para personalizar a experiência dos candidatos, oferecendo conteúdo e interações mais relevantes para cada indivíduo e um modelo de linguagem que se aproxime mais da forma como nós humanos nos comunicamos, visando oferecer interações mais personalizadas.
Potencial da IA no RH
Como se trata de uma tecnologia que vai aprendendo conforme suas interações com os usuários, imagino que, no futuro, a IA generativa consiga sugerir candidatos para processos seletivos, inclusive levando em consideração aspectos de fit cultural se a ferramenta tiver acesso aos parâmetros certos.
A IA também poderá ajudar recrutadores a criar vínculos de networking com as pessoas enviando um “oi” no aniversário, sugerindo notícias e conteúdos customizados para cada público, além de conseguir, por meio dessa rede de contatos, indicações de nomes interessantes para os processos seletivos.
Ainda não estou vendo uma revolução tão grande no RH e nas consultorias com relação à IA. Mas entendo que é questão de tempo para irmos nos surpreendendo com tudo o que essa tecnologia poderá vir a fazer. Nesse momento, uma das grandes vantagens imediatas é a otimização de tempo, permitindo que as pessoas possam se concentrar em atividades estratégicas.
De acordo com um estudo da consultoria McKinsey, até 2030, a IA pode automatizar até 45% das tarefas de RH. Nenhum estudo aponta, porém, que um dia substituiremos totalmente os seres humanos nos departamentos de RH das empresas. Mas já se percebe que o número de profissionais necessários tem diminuído com a adesão à IA e que o papel dos colaboradores que permanecem tem sofrido alguns ajustes.
Como se preparar
As demandas para usar melhor as ferramentas incluem a habilidade de saber o que pedir para a IA desenvolver e interpretar os dados apresentados, mas, principalmente, manter a humanização no contato com candidatos e colaboradores. Ganham relevância, também, as habilidades analíticas, o pensamento crítico e a capacidade de tomar decisões baseadas em dados. Seguem importantes as habilidades de comunicação, relacionamento interpessoal, resiliência e boa gestão do tempo, além da inteligência emocional.
Vejo no meu dia a dia alguns executivos negacionistas quanto ao espaço que a IA vem ocupando. Mas, acredite, negar os fatos ou postergar a avaliação do tema não é a melhor estratégia e nem vai fazer com que tendências não se concretizem. O melhor é buscar informações de qualidade sobre os possíveis movimentos dessa era e se preparar.
As pessoas que procurarem se capacitar para interagir melhor com as soluções de IA generativa vão se destacar, sem dúvida. Dentre as ações, vale colocar na agenda treinamentos e workshops sobre o tema, além da leitura de artigos e publicações, seja na grande imprensa ou em veículos especializados. O importante é entender o que está sendo dito sobre as oportunidades e os desafios.
Se possível, experimente nos processos de RH ferramentas e soluções de IA disponíveis no mercado. Vale mencionar que, para testar novas ferramentas de maneira adequada, é preciso reservar espaço na agenda e entender a ação como um compromisso com a inovação do negócio. Nas empresas mais modernas, essa é uma prática comum.
Hoje, sabemos que pessoas de todos os níveis hierárquicos estão sujeitas a serem substituídas pela IA. Então, em vez de ignorar essa realidade sugiro que você enfrente-a com qualificação técnica e comportamental, sempre tendo em mente uma frase atribuída ao dramaturgo Eugène Ionesco: “não é a resposta que nos ilumina, mas sim a pergunta”. Seja a “cabeça pensante” e tenha a tecnologia como um copiloto, como bem destacou Nada Sanders.